Adeus, Arapujá

Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, vive há mais de uma década com escolta policial para não ser assassinado por sua luta pela floresta amazônica, pelos povos tradicionais e pelos mais pobres. Ao ver a ilha de Arapujá, cartão-postal de Altamira, ser destruída para dar lugar à hidrelétrica de Belo Monte, escreveu essa carta-desabafo. Arapujá é apenas uma das muitas ilhas que desaparecerão se Belo Monte começar a operar.

Dom Erwin Kräutler, em 2014, na janela da sua casa em Altamira, olhando para a ilha de Arapujá, então intacta (Fotos de Lilo Clareto)

Dom Erwin Kräutler, em 2014, na sacada da sua casa em Altamira, diante da ilha de Arapujá, ainda intacta  (Fotos de Lilo Clareto)

Choro, não sei se é de raiva, de revolta ou de tristeza. Creio que é pelas três razões ao mesmo tempo. É um profundo pesar, uma dor compungente, dilacerante. Sinto-me como alguém que é açoitado sem dó e piedade. E é inocente. Depois da tortura, já coberto de hematomas, que adianta provar a inocência!

E lá em cima, nos gabinetes confortáveis da capital federal, defendem a legalidade da destruição do Xingu. Invocam a tese do “interesse nacional“.

Você pode imaginar o que significa para mim o afogamento da ilha Arapujá? Durante cinquenta anos a contemplei com carinho, sempre que a mirava (Alta-mira) da janela de meu quarto ou escritório na “rua da frente”. E oitenta anos atrás, já meus tios Eurico e Guilherme se encantaram com essa beleza!

É um pedaço de mim que agora vai para o fundo.

Erwin Kräutler
Bispo do Xingu

 

A ilha de Arapujá hoje, destruída por Belo Monte

A ilha de Arapujá hoje, destruída por Belo Monte


Leia a entrevista com Dom Erwin Kräutler:

04/06/2012
Dom Erwin Kräutler: “Lula e Dilma passarão para a História como predadores da Amazônia”